Os dicionários estão a nos dizer a forma que as mulheres são tratadas no país. Enquanto para os homens os adjetivos são, em sua maioria, para os elogiar, para elas a recíproca não é, e nunca foi verdadeira.
E toda essa construção histórica faz parte da sociedade em que vivemos e formos criadas, criados, educadas e educados. Quantas civilizações antigas assassinavam as suas meninas ao nascerem? Quantas civilizações ainda mutilam mulheres? Há quanto tempo as mulheres eram vistas apenas como instrumento de reprodução? Não é à toa que elas não serviam, sequer, para serem amadas por alguém.
As famílias, e os tempos não tão remotos assim, vibravam com a chegada do menino, do varão. Na minha última gestação gerei um menino. Lembro-me que recebemos em casa um casal, um primo e uma prima, cuja mulher se encontrava gestante também. Estávamos contemporâneas na gravidez. Perguntaram-nos de que sexo seria o nosso bebê, e respondemos que seria um menino. O homem então, com muita tranquilidade nos afirmou: “Puxa, que sorte a de vocês, pois nós teremos outra menina! ”
A intelectualidade feminina foi questionável por muito tempo, e até na atualidade, por terem sido restringidas ao ambiente doméstico, e pelo corpo significar para eles o objeto destinado a satisfação sexual. O homem deveria provar a virilidade e a inteligência. E a mulher, a doçura e a perfeição. Quer falar de algo importante: busque por um homem. Quer tratar de casa, assunto doméstico: procure por uma mulher.
A pecha as acompanha, tal como a falta de sinceridade intelectual e desonestidade com a história delas. Destruir muralhas e icebergs solidificados ao longo de uma trajetória de contos pessimamente narrados, maledicências, discriminações e preconceitos leva muito tempo. É muito mais fácil se conformar com o que está posto, sem sair do comodismo. Se indispor por algo que, inclusive, necessita de raciocínio com justiça é muita função para acomodados e acomodadas.O dia em que buscarmos por sinônimos de mulher e de homem nos dicionários físicos e virtuais e encontrarmos a verdadeira paridade de vocábulos, quem sabe o enfrentamento pela violência contra as mulheres tenha ficado apenas para o conto...
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual
Autor: Rosana Leite Antunes de Barros